Action Arts TV - Music And Player

Sem Pressas

Entra em todas as portas! Se não tiveres tempo hoje, regressa quando te apetecer ou precisares. Cada texto é uma audição, uma sala em que te encontras só em meditação, e cujas paredes vão progressivamente mudando de cor para auscultares o centro do teu Ser. A Beleza transcendente de um encontro com a tua própria consciência. Abraços. Germano Vaz.

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Residencia En La Tierra


Residencia En La Tierra
Guilhermina Bento, uma amiga extraordinária que restaura vasos, lucernas, cântaros e tigelas, na Estação Arqueológica de Mértola, extraiu de "Viagens Na Minha Terra" de Almeida Garrett, as palavras que se seguem, e publicou-as no seu facebook.
"... ó geração de vapor e de pó de pedra, macadamizai estradas, fazei caminhos de ferro, construí passarolas de Ícaro, para andar a qual mais depressa, essas horas contadas de uma vida toda material, massuda e grossa como tendes feito esta que Deus nos deu tão diferente daquela que hoje vivemos. Andai, ganha-pães, andai : reduzi tudo a cifras, todas as considerações deste... mundo a equações de interesse corporal, comprai, vendei, agiotai - No fim de tudo isto, o que lucrou a espécie humana ? Que há mais umas poucas dúzias de homens ricos. E eu pergunto aos economistas políticos, aos moralistas, se já calcularam o número de indivíduos que é forçoso condenar à miséria, ao trabalho desproporcionado, à desmoralização, à infâmia, à ignorância crapulosa, à desgraça invencível, à penúria absoluta, para produzir um rico ? [ ... ] cada homem rico, abastado, custa centos de infelizes, de miseráveis. "
Não resisti, fulminado por este texto da segunda metade do Século XIX.  com o poder da escrita e como esta se eleva acima da razia à memória e à in-formação, provocada pelos sistemas de comunicação actuais, a responder-lhe com as palavras que se seguem. Escreveu ela em nota de rodapé: Impressionante, não é? Sobre o excerto do texto de Garrett.
Impressionante é! Não menos impressionante é ainda, passarem as gerações pela aprendizagem e vergarem-se estas, prostradas, como se fossem peças apenas do fatalismo existencial e fosse preciso aprender tudo de novo a cada passo, como se não houvesse tempo nem evolução ou memória. Uma Sociedade que pretende eliminar direitos nas melhorias mínimas das condições de vida alcançadas, é uma Sociedade decrépita, sem imaginação e que não tem outra coisa para mostrar e para fazer convencer, senão folclore do mais ruim que pode haver. Nunca houve tanta tese de licenciatura ou doutoramento, ou lá o que isso é... Para que tal presunção servisse para tão pouco, ou definindo melhor, para servir um colaboracionismo cego anti-progresso, como aquele a que assistimos e nos condena. Que nos tenta controlar pelo medo da fome, sempre com mais um dado novo, um buraco, uma nova taxa de juros a cada dia que passa... Estamos provavelmente na encruzilhada entre uma quase certa extinção antecipada das espécies, com a nossa à proa dessa extraordinária e inteligente aventura. Porque essa mesma extinção começou exactamente pelo que de inteligência foi sendo colocado nos cérebros ao longo da história da vida. Isto não é um sentimento ou visão localizada que pretenda puxar orelhas a infeliz algum que venha a terreiro cobiçar pequenos poderes. Antes de o Mundo acabar, os pequenos ainda serão os maiores, como aula espantosa, surpreendente, do que poderíamos ter sido. Mas aí, lamentavelmente o Universo já não nos deixará tempo para um novo começo. O primeiro problema do mundo actual, está no fosso que criou entre si e a filosofia. E nessa coisa estérica, rasca e pérfida, que se ensina não só de hoje aos infelizes que ingressam nas faculdades de economia e finanças em todo o Mundo. Que é o estigma da astúcia e do uso das técnicas da vigarice legalizada, para fazer multiplicar a riqueza através do esforço de multidões, em benefício apenas, de uns poucos privilegiados. Enfim, como se diz agora, os mercados. Isto espalha-se depois pelos movimentos mais comuns da sociedade e aí temos um compêndio generalizado de exercícios que puxam lustro à desonestidade nos negócios, e sustentam o banho-maria para uma sociedade que só vai ser feliz e equilibrada no futuro. Nunca no presente. Ora aí está: O Futuro não existe. Quando começaste a vivê-lo já se fez presente. E é esse, sempre, que te dói. Multiplicai e reparti estas palavras como o pão que Jesus tomou em suas mãos. Não se interpreta ou define comunismo sem se entender e assimilar a origem da mensagem. Nem tão pouco se é alguma vez cristão, repudiando o esforço de repartir justamente a riqueza, proposto pelo comum das esquerdas em todo o Mundo. Se os comunistas têm dificuldade em entender Cristo como o ponto de partida, segundo a Igreja, esta tem uma dificuldade ainda pior em aceitar Jesus, como princípio filosófico da esquerda mais evoluída. A zona civilizacional das sociedades a nível global, que continua a reclamar o fim do mesmo suplício em que Jesus combateu contra Roma, faz o tempo de 2000 anos.

Copyright: «Germano Vaz» - Sociedade Portuguesa de Autores.

quinta-feira, 7 de julho de 2011

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Futuro: há que aperfeiçoar muito dos princípios básicos da filosofia. Regras do pensamento de quando o Mundo era quadrado, com mais de 4 mil anos, e que inspira e encaminha as Universidades ainda hoje, dá-nos a sensação de que nada mudou desde a glória de Roma e Atenas.

É impossível fazer avançar o Projecto Europeu sem aceitação de um Estado Federativo. Mas os países mais ricos não querem. Porque aí, estes têm de contribuir para a balança dos menos fortes, e sem recurso a operações de resgate.

Ou voltará tudo à estaca zero: cada um por si, com penalizações e consequências que ainda não posso prever com exactidão, ou a continuarmos assim, o domínio e controlo pela parte do universo financeiro, sobre o da política e da soberania dos Estados, vai conduzir-nos a um "desmanche" caótico, de que o último império é o autor e ensaísta, e glorificado acabará como único espectador.

O problema é global e tem de ter observadores arrojados, concisos, que disponibilizem, não respostaszinhas domésticas, num quadro de disputas polito-partidárias obsoleto, mas que anunciem a mudança da raiz de egoísmo que afecta o Homem, contamina os seus instrumentos e arrasa tudo por onde passa. Mas isto é urgente. Entenda-se.

Pedro Passos Coelho, acaba de levar com a porta na cara, pela parte do sistema capitalista que ele próprio subscreve, num ambiente de cegueira parvo-infantil, prosseguindo o percurso de asfixia dos seus compatriotas, que poucos dias antes disse, ser catastrófico, pela acção dos camaradas socialistas. Mas como acreditar nisto, sem se querer buscar a razão e o profundo...? E agora, que fazemos Sr. Presidente...?

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Copyright: Germano Vaz - Sociedade Portuguesa de Autores - 1.7/2011

terça-feira, 14 de setembro de 2010

José Saramago - Carta Pública



Carta A José Saramago

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Para onde hei-de enviar eu esta carta? Talvez incinerá-la. Dar-lhe a mesma volatilidade do fumo que te levou a transpor a barreira do universo físico e experimentar em definitivo o processo plásmico das mutações. Onde as formas das existências são sempre o que nos impulsionou ou imaginámos, mas que, a barreira da conjunção nuclear e bioquímica da nossa formação terrena, não nos deixou absorver ou aceitar. “O Universo não tem notícia de nós”. Afirmaste. E tanto que me apetece continuar a aperfeiçoar contigo a chave desta exaltação do espírito. Provavelmente, o Universo não tem notícia de nós, porque não precisa de a ter. Porque somos uma óbvia consequência da sua vontade, uma obra que resulta das suas infinitas capacidades criativas, e que se encontra ainda em evidente estágio de ensaio. Cujo percurso ou nítido ateliê se pode assumir como o cerne do segredo que protege as áreas ou as pedras mais preciosas, do fenómeno ainda insondável da nossa Existência. Talvez que, seja o próprio Universo, a dar-nos notícia de nós mesmos. Isto porque, ainda não nos encontrámos.. E se ainda o não soubémos admitir, se deva isso ao facto de mergulharmos persistentemente na tentativa de encontrar a explicação, em fossos erróneos do caminho, que podem ser a causa e a expressão do padecimento incomensurável a que o Homem se obriga e sujeita. Tendo mesmo assim, na sua frente, todas as possibilidades e coordenadas que nos podem levar ao enorme estágio da habitabilidade e da convivência, interceptado pelos receptores da tua sensibilidade, que nos traduziste através do gigantesco código de caracteres, depositado por fim, nas bibliotecas do Mundo. Como um passo ou acto decisivo da nossa auto-interpretação e que certamente detem muito das definições do único idioma que permitirá levar notícia de nós ao Universo.
O Universo, é pai e mãe ao mesmo tempo. Se há Seres ou estruturas uni-sexuais, como nos primitivos tempos das estruturas de vida unicelular, o Universo é um desses Seres. Se ao fenómeno magistral da paternidade, o nascimento do filho produz a alegria, a elevação da poesia que engrandece e estimula o pai ao mais alto das suas capacidades, não precisará o pai de ter notícia do filho que fez, mais do que a certeza de o ver respirar e viver feliz. As causas do desacerto de entendimento da Humanidade, só muito recentemente começaram a ser pesquisadas e debatidas. Foram sentidas e interceptadas desde que temos noção da existência, mas o tempo é o segredo profundo, intransponível para já, da sua estrutura. É o grande mandatário do aperfeiçoamento e do Juízo sobre a mole humana de que temos conhecimento. Entendamos esta fase do percurso como caminho que não podíamos deixar de percorrer. O Universo não precisa de ter notícia de nós, porque indubitavelmente somos estrutura da sua própria estrutura. Ou seja: Um só corpo. Mas se precisar de haver notícia, esta ocorrerá seguramente. Apenas quando o Homem escrutinar plenamente a sua condição, debelar entre si as fissuras que interditam o contacto, e souber por fim, projectar no espaço uma enorme alegria pelo facto de existir e de se entender. Então sim, o espírito se encarregará de realizar o que ainda nos falta. Tu fizeste a tua parte. Tu sózinho, realizaste mais do que fez metade de toda a Humanidade desde que se conhece. Assim esta o percebesse.
O desequilíbrio notado entre a nossa incrível capacidade de criação de tecnologia, o mau uso que desta se faz, e a não correspondência de um avanço do mesmo gabarito, no plano das humanidades que leve à erradicação do egoísmo generalizado ou pontual, agora disfarçado de competitividade em todos os escalões do ensino a nível global, é um gerador de névoa nos sentidos com efeito de contágio, que atinge, uns por cegueira, outros por arrasto, mas a todos advertiste, e ainda não se deram conta de que, ou arrepiam caminho, ou se transformam nos cavadores de uma gigantesca sepultura para toda a Terra. Sentámo-nos por uma única vez à mesma mesa. Trocámos palavras, comunicámos pelo olhar, esse canal da elevação dos contactos e da certeza das intenções. Falei de televisão e de Mértola, perguntaste-me pelo Cláudio Torres, falo agora do abraço que lhe mandaste e que lhe entreguei naturalmente, com os braços. Não pude no entanto cumprir, por culpa das forças retrógradas que sempre combateste, fora e dentro das fileiras, o teu convite, de que te aparecesse em Lanzarote com uma câmara, para iniciarmos a revelação, sobre o que será no futuro a nossa Península Ibérica. Que poderei eu acrescentar mais nesta fase do diálogo? A não ser a convicção de que este irá progredir por todo o futuro.
Eram 11.30h em Moreanes, quando alguma coisa me diz que tenho de sair do meu ateliê de edição e subir ao cerro mais alto, dos 3 que protegem a minha aldeia. Ali, todos os pensamentos vão em tua direcção. E de repente, uma ave solitária fica por cima de mim, imóvel. Movia as asas para se manter no ar, mas persistia em não seguir para sítio algum. Quando achou que era tempo, desistiu daquela parcial imobilidade e eu desci do monte. Entrei em casa em cima da hora das notícias. Liguei o televisor. Abre o noticiário. E antes que o apresentador dissesse alguma coisa, o rodapé informava em formato maior do que o costume, o falecimento do teu corpo. Estava explicado o impacto de há uma hora e trinta atrás. Antes da televisão, esse cérebro complexo, de circuitos e radiações onde sempre habitei, a Ave que me enviaste, entregara-me muito mais sábia e veloz, o teu recado.

Londres, 8 de Julho de 2010.
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Direitos Protegidos - Germano Vaz - SPA-Sociedade Portuguesa de Autores-9/2010

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

O Universo e Nós




Nós e o Universo
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Foi descoberto um outro Sistema Solar a 127 anos-luz. Significa que o que se observou e concluiu hoje da implicada investigação, foi projectado pelos actores cósmicos há 127 anos atrás. Dois cientistas portugueses envolvidos nesta investigação bem sucedida, deram ênfase à notícia que preencheu espaços noticiosos, ilustrada com simulacros animados a 3 dimensões, para encanto e envolvimento dos espectadores, dos menos conhecedores aos mais esclarecidos, dos mais apáticos aos mais entusiastas.
Carl Sagan indicou-nos o caminho. E creiam seguramente que é muito bom termos o “Cosmos” e o “Contacto” à cabeceira, como Bíblias do conhecimento da Existência Universal. Se acreditássemos estarmos sós na imensidão cósmica, já tínhamos desistido da busca. Afinal a navegação extra-estelar, de raiz espectral e ocular, ou até mesmo a navegação pilotada ou telecomandada, esta intra-estelar, teve como impulso inovador, as Navegações Portuguesas Intercontinentais de há 500 anos. E isto, o Universo, não será assim um tão enorme desperdício de espaço e de surpresas, se perante as quais não nos imaginarmos presunçosamente, de si, os únicos filhos ou espectadores.
Dois aspectos interessantes que realçam na nossa existência, um sentimento comum de fatídica esperança e obstruem por consequência o desenvolvimento dos cérebros, parecem oportunos aqui, como espaço de reflexão sobre o peso ou a importância de cada um de nós e da Humanidade inteira no seu conjunto, pelo manifesto e provado titubear do caminho como autênticos cegos, matando e negando felicidade ao outro, colocando o Homem como uma das expressões mais extremistas e perigosas de toda a Criação Universal.
Não quero saber do que possas pensar acerca do pessimismo. O que me importa e o que te deveria interessar a ti, é o realismo. A busca incessante da verdade sobre a nossa real afectação aos demais, e não essa pobreza de disfarces em que escondes os olhos e o coração, e te lança na inércia, nessa semi-paralisia da Obra ou do Pensamento, e procuras arrastar aqueles que não se conformam diante dos desperdícios de energia e de inteligência, em que a construção do actual sistema de gestão e do crescimento te convenceu, de que mais nenhuma forma de organizar e seguir a vida, haveria de se pronunciar por todo o futuro até ao infinito mais profuso.
O primeiro dos aspectos, guarda-se desde a perda da soberania portuguesa para Espanha, depois de um miúdo armado em Rei, ter-se posto a brincar com a vida de um País, a cobro de um conjunto de acéfalos que o autorizaram e outros que o seguiram para Alcácer Quibir. Quis a providência das Origens que por lá ficasse. Quem sai de sua casa com propósitos de ocupar e saquear o espaço e haveres que aos outros pertencem, deveria sempre ter esse exacto e exemplar destino. Um dia, talvez possamos abrir mão desta rigorosa disciplina. Porque o Homem já terá aprendido tudo sobre ela. E esta, estará tão orgulhosamente cimentada na formação e nos comportamentos, que polícias e juízes tiveram de instalar produções de fruticultura por falta de trabalho na justiça. E os tribunais foram em alternativa, reconduzidos a escolas de primeira infância.
O outro aspecto, resume-se à transformação de Deus em qualquer coisa de válido e criativo para as consciências e para o amor, e não habitar nesta presente, ancestral e mórbida disputa de posse da Ordem dos Valores e dos sentimentos, de uma espiritualidade reivindicativa, odiosa e perversa, que transforma o Mundo em pérfidos terreiros de batalha e morte, como se lutassem por ouro ou por água. Os infelizes ainda não entenderam que, o que o Planeta cria chega para todos. Se for repartido com generosidade ou inteligência, que são uma e outra coisa, uma só. Também imagino que não concordes comigo neste ponto. E que me dirias que inteligência é inteligência e generosidade é generosidade. Mas a arrogância é mesmo assim. Ainda insisto: se puseres generosidade efectiva, genuína, com substância, na inteligência, por pouca que te caiba, esta será elevada a uma dimensão que supreenderá o mais astuto dos teus competidores.
Posto isto, sobrar-nos-ia ainda tempo para contemplar as flores e as estrelas. E discernir num ápice que aquelas não nascem nem sobreviveriam sem a atenção e a energia destas. Nada que o Homem possa ter interceptado no caminho, como a descoberta e a interpretação da matemática, é de sua autoria. É o Universo que estabelece as regras, até as da matemática. Ao Homem, só é atribuída a faculdade de as interpretar.
A confusão e a mediocridade que paira sobre a substancial utilidade dos parlamentos, cobre os desvios da riqueza criada. Acumulando-a numa balança de desequilíbrios sarcasticamente vergonhosos, permitindo lugar à legalização da colossal legião de escravos que os sustenta, com árduros sacrifícios nas bases da pirâmide da escala das importantices humanas.
Se é pessimismo o que o Universo te propõe, isso é contigo. Experimenta o optimismo e vais ver as diferenças e os resultados. A fronteira é ténue mas perfeitamente decifrável. Se te puseres diante de um espelho e consultares o fundo dos teus próprios olhos, discernerás melhor sobre o que te estou a dizer. Mas atenção: Independentemente das suas funções, não haverá homens desiguais na compensação, quando entregues à construção da mesma Obra. Enquanto este parâmetro não for objectivamente avaliado, até hoje a cru em espaços de retórica e de vontade, que vão das religiões até às mais diversas facções da política e da justiça, não haverá sossego. O Universo deixar-nos-á mais sós e perdidos. E Deus não passará de uma mítica invenção onde o Homem apenas esconde e multiplica as suas misérias de espírito. Mas apesar de escolheres o caminho mais errante e tortuoso, eu sei que ainda podes melhorar. Não me venhas é dizer depois, que não fiz nada para te ajudar, e prefiras ocupar-te em acções obscuras que visaram o meu próprio extermínio.
Foram descobertos sete planetas, identificadas as suas órbitas. Os padrões de agregação e coordenação do Novo Sistema, são os mesmos que regem o nosso Sistema Solar. Os Economistas estão demorados a admitir que uma ideia de crescimento eterno e infinito, não tem mais sustentação ou futuro. A mudança impõe-se. É urgente gerirmos os ritmos e fluxos produtivos com inteligência e generosidade. Que, são uma e outra coisa, uma só. Que tal gerir a vertente material a lucro zero, ou apenas a um crescimento de sustentabilidade, antes aperfeiçoar as dinâmicas dos recursos, e distribui-los com sensatez, equidade, e investir na evolução da sensibilidade e das encéfalo-dinâmicas de expressão humanista e solidária. Cuidado: Solidariedade e Caridade, são coisas bem diferentes. A Caridade só tem lugar, porque antes falhou em vós a Solidariedade. Grande parte do nosso insucesso colectivo deve-se ao desvario dos sistemas de ensino e comunicação, com o particular relevo da televisão. Reflictam sobre a necessidade urgente de alteração dos princípios da orientação individual e colectiva. Para que possa continuar a dar-vos frutos e entender-vos filhos dignos do meu nome, aqui assinado, Terra.

Germano Vaz, Mértola 26 de Agosto de 2010.
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Direitos Protegidos - Germano Vaz - Sociedade Portuguesa de Autores - 8/2010

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

BUCKINGHAM PALACE




A Sua Majestade Rainha Isabel II
De Inglaterra
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Londres, era para mim uma espécie de mito. Um universo distante e inacessível, desde que dei por mim ao cimo da Terra. Venho de uma micro-colónia industrial inglesa, instalada no Concelho de Mértola no alvor do Século XIX, para dar lugar à exploração dos metais e outros elementos nos subterrâneos da Mina de S. Domingos.
Os mandatários da antiga Roma, enviados para o controlo do Ocidente da Ibéria, depressa se aperceberam que o Morro de S. Domingos escondia enorme potencial de riquezas. Escavaram galerias que ainda hoje são visíveis a partir dos observatórios turísticos instalados recentemente no sítio pela Câmara Municipal de Mértola, sobre o gigantesco patamar de escória e resíduos, deixados ao deus-dará pela magnânima administração inglesa.
Eu vi como tudo aquilo funcionava. Por algumas vezes vim de casa, situada a seis quilómetros da mina, de cesto na mão com a refeição de almoço, para entregar ao meu pai. Que por último trabalhava à boca do túnel no controlo da corda-sem-fim. Um espesso cabo de aço multi-filar onde eram enganchadas as zorras, pequenos vagões que circulavam sem parar, entre as profundezas negras da Terra e o Cais de transfega. Primeiro dos pontos para o acesso das substâncias minerais aos pólos siderúrgicos da Grã-bretanha.
Por tanto… Almocei por algumas vezes no ambiente de trabalho dos mineiros. Gravando na memória dos meus sete e oito anos, os sons e as imagens que ainda não vi reproduzidos em qualquer minuto de todo o volume de filmes e documentários até hoje realizados sobre o enorme complexo.
Inglaterra era pois um mundo distante e inacessível, desde então e até há pouco tempo. Até que um dia, um conjunto de ex-alunos meus se foram fixando um a um, no Canal de Música para jovens, MTV, situado em Camden Town , na ala norte de Londres. Comecei então o meu per-curso regular desde 2005 entre Lisboa e Londres e deste modo, os meus alunos me têm retribuído a dádiva da experiência transmitida, em alojamento, refeições e aprendizagem da geografia de Londres, e já também, de muitos outros pontos do país, nesta minha espécie de tirocínio sobre a Real Sociedade Inglesa.
Embora, tenha vindo ao mundo enquadrado numa figura de Estado regulada por um doentio e sarcástico sistema republicano, não sinto qualquer adversidade de simpatia, pelas monarquias, sempre que estas saibam interpretar a lição das formigas e das abelhas. E mais do que fazer ressurgir ou crescer qualquer império, conduzir as suas populações rumando ao grande destino das humanidades, em que todos participem com o seu melhor, ninguém se torne abastado em desmedida proporção, e todos tenham direito à oportunidade e ao suficiente. Pois que, dado o tempo médio de vida na espécie humana, mais não será necessário, para que todos possamos sair um dia deste mundo, livres de qualquer revolta, porque um outro nos devorou ou absorveu indevidamente parte ou a totalidade do nosso quinhão.
Precisava de ver. De observar em pormenor os materiais e contornos dos portões de Sua Majestade Rainha Isabel II. O Palácio de Buckingham, inicia os seus domínios geográficos logo a partir dos enormes arcos em Trafalgar Square. Passados estes dois imponentes arcos, temos quarenta minutos a pé, em linha recta até ao Palácio. O que fica desta enorme alameda sempre ladeada por frondosos jardins, é de que é o local ideal para as paradas e cerimónias militares. De facto, todo o perímetro de jardins do Palácio está disponível e aberto ao público permanentemente. A ala mais exuberante é a dedicada à província do Canadá. Aos portões que me levaram ali, já os de acesso às zonas de actividades oficiais e residências, transportei através da observação e do tactear o aço, o cobre e o bronze poderosos e espessos, uma espécie de memória, em devoção e apreço aos que recolheram estes metais das profundezas de S. Domingos. Dois soldados guardiões, imóveis como estátuas, só interrompem aquela ausência de movimento, quando substituídos por outros, ao fim de duas horas. Não desisto deste filme e quiçá até, se um dia consigo entrar ali dentro… Enquanto em Mértola se observam os restos da velha mina inglesa a partir dos miradouros assentes nas escórias, e diante de águas ácidas por deter e controlar, eu procuro uma oportunidade para dialogar com a Primeira Soberana do Palácio de Buckingham.
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Copyright: Germano Vaz - World Arts Gallery - Sociedade Portuguesa de Autores - 11/2009.
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domingo, 22 de novembro de 2009

Em Nome do Pai...


Em Nome do Pai
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Que diria Jesus de Nazaré se, ao que nos era proposto a sua viva presença tivesse retornado à Terra, ou na verdade, enraizada no coração dos homens… Estremeceria, talvez de surpresa, de espanto e de arrependimento. Pelo derramar do seu talento intransponível, da sua dedicação e sofrimento. Por paixão, que no terreiro planetário se esfuma atrás de um milhão de argumentos, sempre repetidos no reinventar da miséria da filosofia dos que por cá ficaram, e em muitas mais desculpas procuram depurar nos oratórios dos fóruns, essa provocação universal que espraia o vazio sobre as sensibilidades e o pensamento, entre a mensagem primordial e todo o tempo de mais de dois milénios, desde, mesmo antes do seu assassinato, até aos presentes dias.
Escolhi Mértola como cenário, porque atrás daquela luz, bem podia estar o pátio em que o Divino Complacente reconfortava alguns dos seus seguidores mais sofridos. Enquanto sua mãe o procurava para o alertar sobre os perigos eminentes que ele corria. Aliás, perseguido e ameaçado sempre, desde Herodes a Pôncio Pilatos. Um dos seus irmãos, de quem não via bem o rosto mas que me parecia ser Tiago, junto a ela, dizia-lhe: Vês…! Olha para ti e não reage. Nem sequer te reconhece. É como se não existisses. - Como podes tu julgá-lo dessa maneira? Só o amor que o envolve àqueles sofredores o pode ter obrigado a ignorar a nossa presença… E nisto o irmão de Jesus afasta-se como se não corroborasse das palavras e certezas de sua mãe. Maria, sozinha então, voltava a mostrar-se a Jesus a uns trinta metros de distância e depois, de novo se ocultava atrás de uma esquina. Só por uma vez, Jesus cruzou o seu olhar com o de sua mãe, e nem aí deixou transmitir qualquer sinal que lhe dissesse que podia esperar por ele. A imensa fila de desalentados tinha reduzido de tamanho e um dos seus assistentes avisa-o de que devem seguir para a praça da cidade onde o aguardava uma enorme multidão para o ouvir. Maria, tinha então abandonado a espera e já retomava o caminho de volta. Sabendo das convicções de Jesus, conhecendo a Natureza da sua infinita generosidade, regressava a casa firme do seu amor, mas não sabendo esconder alguma tristeza por o filho não a ter recebido. Por não poder transmitir-lhe as suas inquietações de mãe, acerca das perseguições acéfalas que lhe movia o governador da Judeia.
- Mãe…! - Maria interrompeu os passos. A expressão do seu rosto alterou-se. De uma nostalgia contida para uma luminosidade de esplendor único, só atribuída à inocência. E voltou-se para ele já a sorrir. Jesus deu mais uns passos e chegou até ela. Nunca os olhos de Jesus libertaram tanto brilho. Nunca o seu rosto disse amar tanto como naquele instante. Abraçou-a e disse-lhe: - Tenho de ir. Não posso interditar o caminho. A multidão espera-me na praça. Estão ansiosos por me ouvir. Maria recuperou as suas forças e ficou a olhá-lo serenamente, enquanto Jesus se dirigia para a Ágora. Para além de saber que aquele era o último discurso de Jesus, Maria sabia também que a sua entrega plena àqueles a quem aliviava o sofrimento momentos antes, foi o único motivo da espera em que ele parecia nem sequer reconhecê-la. Este foi o último abraço, o instante em que ela viu o filho em liberdade pela última vez. Só através do amor entregue neste momento, é que Maria pôde superar a dor tremenda que lhe fora causada por todo o posterior sofrimento do filho.
Devo poder contar apenas pelos dedos das mãos, as sensibilidades que em todo o Universo conhecido, agiram perante os outros em conformidade com estas orientações. Tudo o que a governança do Mundo, da escala mais medíocre á mais descomedida possa dizer para justificar a ausência de solidariedade, que espelha o açambarcar de riquezas acumuladas, na posse dos imperadores da actualidade, desde as seis corporações de banqueiros que controlam o dinheiro de todo o Mundo, até á politicazinha de paredes-meias com os nossos casebres, são entretenimentos para suster a razão dos menos remunerados e legalizar o descalabro, o desvario que sujeita a Humanidade à proibição de ter esperança e de ter Justiça. Até da esperança, as habilidades da retórica e da propaganda fazem alegorias e vitórias. Para logo a seguir, transformarem os sonhos que fazem parte da nossa estrutura ancestral, em contentores de vácuo e de ruína.
Onde estão as décadas de promessas contínuas para o debelar das crises? Onde estão os Séculos de experiência colhida dos horrores das colonizações e das guerras? Onde está o conteúdo, o significado de igualdade reclamado no ímpeto poético das Revoluções? Onde está o poder da arte que sustenta as ogivas das catedrais? Talvez seja só poder, porque a Arte reside na fé onde se potencia o espírito de cada Ser. Onde está a capacidade dos reverendos perverterem, ou mesmo só contornarem a fidelização cega ao seu imperador, e colocarem-se em campo para seguirem o chamamento da pureza e da dignidade do espírito como verdadeiros missionários...?
De repente, parece que o Mundo deixou de ter fundo-de-maneio a circular… Aprisionaram-no no pragamatismo da crise. As televisões abrem as notícias com espectáculos de pavor, para que o intervalo dos anúncios renda mais do que o do dia anterior. Os Canais das novelas embalam os cérebros para as realidades saberem a ficção. A cidade do cinema da Califórnia propõe aos jovens de todo o Mundo, uma estrutura de pensamento, que exala violência e distânciamento da solidariedade. Uma frieza vítria e perigosa...! Quantas escolas são metralhadas em cada ano? Onde nasce o desnorte que produz tal aberração? Quem arrecadou o dinheiro de repente…? Quem é que fabrica marginais...? Por onde passa a retoma…? Pela inflação, ou pela deflação…? Qual é o índice de sub-escravos postos na rua em cada dia...? Qual é a peste que vai provocar a próxima pandemia? Que dirá a isto a Justiça, ou ela é formada sob o manto de quem manda...? Jesus e Marx fundiram-se em José Afonso... Quem deu por ela...? Já tem cama e sepultura, toda a Terra… Pai, perdoa-lhes. Que eles não sabem o que fazem…!
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Copyright: Germano Vaz - World Arts Gallery - Sociedade Portuguesa de Autores - 11/2009
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segunda-feira, 8 de junho de 2009

Atlas Filmes - Estúdios







O Complexo do Cinema
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Longe de mim saber que ia ao encontro deste espaço, singular em toda a viagem. Lugar onde são rodadas as grandes produções épicas que nos chegam através dos circuitos de distribuição cinematográfica mundial, e que lhe conferem a dignidade de um enorme complexo do Cinema.
Apesar da minha íntima ligação desde sempre, às artes da imagem em movimento, sinto-me a aplicar mais as minhas energias em torno da concepção de obras documentais, que inevitavelmente se ligam às necessidades de sobrevivência quotidiana, do que propriamente na identificação dos espaços e nomes de produtoras ou personalidades que estimulam em primeira linha as correntes que alimentam as ilusões da fama e da visibilidade dos afortunados do talento. Talvez por entender que a arte existe para cumprir uma missão na evolução do pensamento e das sensibilidades. Não para nos envolver de sugestões altamente nocivas, deturpadas e perturbadoras, sobre a relação entre a arte e o artista e entre estes e a sociedade.
Mas aqui, nos arredores de Merzouga, onde estacionámos em cumprimento de itinerário, arrebatou-me a surpresa da Atlas Filmes, quase em pleno deserto, expondo as suas estruturas a uma escala impressionante. Que acabou por me resumir a satisfação em uma vontade de sempre, de visitar Holywood ou também a CineCitá, nos arredores de Roma.
Neste imenso complexo foram já filmados "O Último Imperador", "Cleópatra", "O Gladeador", entre um infindável volume de obras, exibidas nos circuitos do cinema mundial. Neste momento filma-se a nova versão de Ben-Hur, que em breve poderemos ver nas nossas salas de cinema.
As excepcionais condições de Luz e uma disponibilidade total dos horizontes, permite a produtores, cenografia, e realização, desempenhos e resultados plásticos plenos, de acordo com a especificidade das produções regularmente introduzidas neste grandioso complexo de estúdios.
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Para o Comandante António Vilela, pela oportunidade desta visita e sua indubitável componente cultural.
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Copyright: Germano Vaz - World Arts Gallery - Sociedade Portuguesad de Autores - 6/2009.
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domingo, 17 de maio de 2009

Os Pastores... Os Motores...







Ox Alá
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Nos tempos actuais assistimos por todo o mundo ocidental a um incontestável quebrar de afectos entre o Homem e a Natureza. Realidade que, parece estar a inverter a ordem dos seus factores. E se propõe alterá-los, é porque começou a perceber que perverteu e desvirtuou a parte mais sensível do caminho, que tanto importava estimar e proteger.
A necessidade de domesticar animais que sensibilizou a humanidade na passagem da Era Megalítica para a Era Histórica e Civilizacional, e que lhe formou em muito o que tem sido a evolução do pensamento, sofre no presente momento um corte obtuso de relacionamento e de laços, que o atiram sem quase dar por isso, para uma desolação e uma perigosa frieza no conjunto das relações e convivências. Deixando observar a uma escala de enormidades, a degradação da Aliança, que ao Homem foi confiada pelo mais íntimo da Criação.
As cercas de arame cravado de farpas, como os espinhos da coroa do Crucificado, e as mais sarcásticas ainda, que actuam por electrocussão agredindo-os com violentos choques eléctricos, que na des-economia da habilidade e da mentira foram instaladas para limitar a vida animal a simples materiais de consumo, e por outro lado, para que as vedações substituam a mão-de-obra dos Pastores, é na minha apreciação um dos maiores vandalismos da História. Só quem partilha de perto, os diálogos que um pastor estabelece com o seu rebanho e a resposta recíproca deste em seu seguimento, pode perceber o contraste desta diferença anómala, tristemente acéfala e irracional.
Do meu olhar recente a este Mundo de encantamentos, um deles, tão enorme e virtuoso como sentir no pleno da noite o calor das Estrelas, é observar e sentir que os laços antigos entre os homens e os animais, que o mais longínquo da Existência nos confiou, ainda se exprime num vigor intacto e surpreendentemente afectivo.
Aproveitando as últimas linhas de água que vão humedecendo as raízes dos vegetais ao longo de centenas de quilómetros, os pastores e as suas gentes, apascentam os animais, e estimam-nos como se de si mesmos se tratasse.
No meio deste grandioso reduto da vida, eu, deslumbrado com tudo o que podia percorrer aquém e além do presente, interrogo os meus silêncios, que quase sempre são o mais forte dos diálogos, sobre a legitimidade deste desfile de máquinas poderosas que nos trouxe até aqui. Para, no centro desta profunda interrogação, logo me surpreender o ruidoso impacto de um grupo de viajantes montados em veículos de duas rodas, quiçá como cavaleiros do desespero.
Se esta é a alternativa, a única possibilidade de chegarmos aqui para tornar legível o registo, de que toda esta última riqueza do Planeta deve ser poupada às calamidades da sub-civilização dos mono-tipos biológicos e fraternais, então, bem-hajam os motores. Exista neles ao menos uma virtude ou ponderada consequência, dentro de todo o impressionante desperdício para que foram criados.
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Para o amigo Carvalho, mecânico de serviço na expedição, homem generoso, sempre pronto a ouvir e a socorrer.
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Copyright: Germano Vaz - World Arts Gallery - Sociedade Portuguesa de Autores-5/2009.

domingo, 10 de maio de 2009

Jurassique Hotel





Amzouj

O Primeiro grande impacto com estes espaços gigantescos e esta Natureza, só aparentemente precária e débil, foi no cimo das montanhas de Amzouj, que deixam observar o enunciado das Gargantas do Ziz, num esplendor de luz e geologia, que me indicaram o mais certeiro dos destinos.
Lá em baixo, as tonalidades do rio, prosseguem como uma lava de prata já purificada, dirigida aos olhos e ao virtuosismo dos artesãos de joalharia. Fugaz e breve, este instante que nos ofereceu tão memorável riqueza, anunciava-nos uma sequência de constantes surpresas que nos preenchem e removem por dentro, buscando em nós a descoberta para outra dimensão do apreço pela Terra e pelos Seres que a habitam, que talvez já supuséssemos erradicado da nossa sensibilidade.
Na noite anterior decorria a encenação bem divertida de um casamento berbere, entre o primeiro herdeiro do trono Jurassique, e a Zeza, que em Mértola lida diariamente com euros para sugestões agrícolas.
Zeza e Gui, partilhavam o banco traseiro da Strakar do amigo Malagueta. Como a esta viatura foram atribuídas suspensões traseiras uniformes, sustentadas por molas de lâminas como as das antigas charretes, de cada vez que as duas musas saiam numa pausa, quase precisavam de uma bengala adequada à terceira idade. Mas as queixas nos quadris eram passageiras. Tanto mais que Zeza, ensaia dança oriental em Mértola e depois do Jantar no Jurassique, Gui não lhe deu descanso enquanto não a fez decidir-se a dar-nos uma exuberante exibição.
Aqui é normal os bailes ocorrerem na base de performances masculinas, tal como já se haviam pronunciado. Mas uma vez vestida a rigor, Zeza entrou na dança e de imediato partiu o coração aos nativos. Que até ali dançavam com o estímulo apenas pela metade.
A seguir, a cerimónia matrimonial entre Salam e Zeza assente nas regras berberes, quase se assumiu como real. Entre promessas de transmissão da herança do palácio para a posse da noiva, e a nostalgia de um noivo crente e convicto, quase não foi possível desmontar o que à partida se tomou como uma cena de teatro.
Apesar de divertida, a noite, no salão principal do hotel, saí até ao exterior para apanhar ar e de imediato me surpreender com uma atmosfera calma e sereníssima, purificadora. A Terra aqui, a Lua além, entre estrelas agitadas e luminosas, chamaram-me à memória José Afonso e a sua extraordinária canção "Eu Dizia", que introduzi no pequeno filme "Entre as Estrelas e o Chão", para o Centro de Interpretação da Paisagem da Amendoeira da Serra.
Alessandro, um jovem luso-italiano vindo do Algarve, interceptou-me no isolamento da contemplação e afirmou com a voz de um monge que busca a perfeição: - Como está espiritual este céu, esta noite... Aqui, as estrelas brilham mais. Dão-nos energia e força. - Sobre tudo força espiritual! Disse-lhe. Que é a mais benévola e essencial. E já nos parece tão rara, suspensa, até interdita, naqueles lugares de onde viemos...
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Para o Salam e para a Zeza, pela noite espectacular que nos proporcionaram.
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Copyright: Germano Vaz - Worlds Arts Gallery - Sociedade Portuguesa de Autores - 5/2009

terça-feira, 5 de maio de 2009

A Idade do Mundo







A Idade do Mundo
Se dos anéis internos dos fustes das árvores podemos definir ou determinar a sua idade, este é o lugar certo para aferirmos a idade do Mundo.
Este é o título que decidi atribuir a um projecto ainda em construção e que leva já muito de recolhas visuais e gestação no pensamento. Julgava eu poder dar-lhe o primeiro remate conclusivo com base nas recolhas que realizei nos últimos anos no âmago do chão de Mértola e no outro extremo em frente, junto do mar.
Ainda bem que, outros motivos me fizeram esperar. Pois agora sei que ele ficaria em muito deminuído se não estendesse o olhar e os sentidos a esta enorme massa geológica, em que se assenta todo o Norte do continente africano.
É óbvio que esta Idade do Mundo, surge sustentada pelos ímpetos poéticos que continuamente me orientam e movem. Mas, pondere, quem pretender dissociar na mais antiga aliança do conhecimento, a energia que estimula o interesse do cientista e o leva ao fundo das conclusões, e aquela que descodifica a mais íntima matéria dos Universos e a torna transparente, discernível, formada no espírito e emitida pelo fio óptico e sensorial do Prisma, que encerra todo o segredo da Poesia.
No dia da abertura da Expo 98, foi lançado para o Espaço num foguetão da NASA o primeiro satélite português. O Posat 1. Durante a longa emissão televisiva que fusionava os dois acontecimentos, uma das cientistas em interrogatório mediático afirmou: - Só há duas maneiras de conhecermos ou dialogarmos com o Universo. Uma é estudando astrofisica, e a outra está inscrita na sorte de ter-se nascido poeta.
Se a mim não me foi proporcionada a oportunidade de ser cientista em qualquer tempo da minha existênca e se aos sete anos de idade, fui pela mesma energia de hoje impulsionado a compor os meus primeiros versos, não será complexo poder definir que existem múltiplas formas de observação e análise do Universo e que a primeira se estabelece entre o ponto onde pões os pés e um outro, que é a superfície onde batem persistentemente os teus olhos. Ou para lá deles, até onde podem navegar os sentidos.
Destas superfícies visivelmente estractificadas, umas sobre enormes massas de xisto, outras vindas da irreverente inquietude dos vulcões, nos chega a inspiração que nos envolve e impressiona sobre a grandeza e o poder do Mundo. Sobre o seu poder generoso e por vezes austero, sobre a sua beleza infinita e a sua eminente fragilidade.
Sobre estas montanhas íngremes, enormes, quase apocalípticas, em que os olhos quase não vislumbram mais nada senão rochas, é ainda possível observarmos pastores e rebanhos em busca de alimento. Para nossa surpresa e espanto, num território em posição crítica de sobrevivência e sustentação, descobrem-se soluções indicadas pelos animais e rigorosamente interpretadas pelos seres humanos. Uma generosa troca, de ensinamento e aprendizagem levada ao extremo do exemplo, que permite a ambos permanecerem e prosseguirem juntos na enorme caminhada.
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Para o Professor Cláudio Torres, pela sua enorme fonte de estímulo.
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Copyright: Germano Vaz - World Arts Gallery - Sociedade Portuguesa de Autores - 5/2009.