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Sem Pressas

Entra em todas as portas! Se não tiveres tempo hoje, regressa quando te apetecer ou precisares. Cada texto é uma audição, uma sala em que te encontras só em meditação, e cujas paredes vão progressivamente mudando de cor para auscultares o centro do teu Ser. A Beleza transcendente de um encontro com a tua própria consciência. Abraços. Germano Vaz.

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Residencia En La Tierra


Residencia En La Tierra
Guilhermina Bento, uma amiga extraordinária que restaura vasos, lucernas, cântaros e tigelas, na Estação Arqueológica de Mértola, extraiu de "Viagens Na Minha Terra" de Almeida Garrett, as palavras que se seguem, e publicou-as no seu facebook.
"... ó geração de vapor e de pó de pedra, macadamizai estradas, fazei caminhos de ferro, construí passarolas de Ícaro, para andar a qual mais depressa, essas horas contadas de uma vida toda material, massuda e grossa como tendes feito esta que Deus nos deu tão diferente daquela que hoje vivemos. Andai, ganha-pães, andai : reduzi tudo a cifras, todas as considerações deste... mundo a equações de interesse corporal, comprai, vendei, agiotai - No fim de tudo isto, o que lucrou a espécie humana ? Que há mais umas poucas dúzias de homens ricos. E eu pergunto aos economistas políticos, aos moralistas, se já calcularam o número de indivíduos que é forçoso condenar à miséria, ao trabalho desproporcionado, à desmoralização, à infâmia, à ignorância crapulosa, à desgraça invencível, à penúria absoluta, para produzir um rico ? [ ... ] cada homem rico, abastado, custa centos de infelizes, de miseráveis. "
Não resisti, fulminado por este texto da segunda metade do Século XIX.  com o poder da escrita e como esta se eleva acima da razia à memória e à in-formação, provocada pelos sistemas de comunicação actuais, a responder-lhe com as palavras que se seguem. Escreveu ela em nota de rodapé: Impressionante, não é? Sobre o excerto do texto de Garrett.
Impressionante é! Não menos impressionante é ainda, passarem as gerações pela aprendizagem e vergarem-se estas, prostradas, como se fossem peças apenas do fatalismo existencial e fosse preciso aprender tudo de novo a cada passo, como se não houvesse tempo nem evolução ou memória. Uma Sociedade que pretende eliminar direitos nas melhorias mínimas das condições de vida alcançadas, é uma Sociedade decrépita, sem imaginação e que não tem outra coisa para mostrar e para fazer convencer, senão folclore do mais ruim que pode haver. Nunca houve tanta tese de licenciatura ou doutoramento, ou lá o que isso é... Para que tal presunção servisse para tão pouco, ou definindo melhor, para servir um colaboracionismo cego anti-progresso, como aquele a que assistimos e nos condena. Que nos tenta controlar pelo medo da fome, sempre com mais um dado novo, um buraco, uma nova taxa de juros a cada dia que passa... Estamos provavelmente na encruzilhada entre uma quase certa extinção antecipada das espécies, com a nossa à proa dessa extraordinária e inteligente aventura. Porque essa mesma extinção começou exactamente pelo que de inteligência foi sendo colocado nos cérebros ao longo da história da vida. Isto não é um sentimento ou visão localizada que pretenda puxar orelhas a infeliz algum que venha a terreiro cobiçar pequenos poderes. Antes de o Mundo acabar, os pequenos ainda serão os maiores, como aula espantosa, surpreendente, do que poderíamos ter sido. Mas aí, lamentavelmente o Universo já não nos deixará tempo para um novo começo. O primeiro problema do mundo actual, está no fosso que criou entre si e a filosofia. E nessa coisa estérica, rasca e pérfida, que se ensina não só de hoje aos infelizes que ingressam nas faculdades de economia e finanças em todo o Mundo. Que é o estigma da astúcia e do uso das técnicas da vigarice legalizada, para fazer multiplicar a riqueza através do esforço de multidões, em benefício apenas, de uns poucos privilegiados. Enfim, como se diz agora, os mercados. Isto espalha-se depois pelos movimentos mais comuns da sociedade e aí temos um compêndio generalizado de exercícios que puxam lustro à desonestidade nos negócios, e sustentam o banho-maria para uma sociedade que só vai ser feliz e equilibrada no futuro. Nunca no presente. Ora aí está: O Futuro não existe. Quando começaste a vivê-lo já se fez presente. E é esse, sempre, que te dói. Multiplicai e reparti estas palavras como o pão que Jesus tomou em suas mãos. Não se interpreta ou define comunismo sem se entender e assimilar a origem da mensagem. Nem tão pouco se é alguma vez cristão, repudiando o esforço de repartir justamente a riqueza, proposto pelo comum das esquerdas em todo o Mundo. Se os comunistas têm dificuldade em entender Cristo como o ponto de partida, segundo a Igreja, esta tem uma dificuldade ainda pior em aceitar Jesus, como princípio filosófico da esquerda mais evoluída. A zona civilizacional das sociedades a nível global, que continua a reclamar o fim do mesmo suplício em que Jesus combateu contra Roma, faz o tempo de 2000 anos.

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