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Sem Pressas

Entra em todas as portas! Se não tiveres tempo hoje, regressa quando te apetecer ou precisares. Cada texto é uma audição, uma sala em que te encontras só em meditação, e cujas paredes vão progressivamente mudando de cor para auscultares o centro do teu Ser. A Beleza transcendente de um encontro com a tua própria consciência. Abraços. Germano Vaz.

terça-feira, 28 de abril de 2009

Para Lá do Grande Atlas




Para Lá do Grande Atlas


Em boa hora o Pintor Manuel Passinhas, funcionário dos Serviços Sócio-Culturais da Câmara Municipal de Mértola, me desafiou para integrar a Expedição Mértola-Marrakech que ocorreu de 3 a 12 de Março de 2009.
De África só vislumbrara ainda as colinas que se avistam de Gibraltar e pouco mais.
O Reino de Marrocos havia-me oferecido em 2001 a cidade medieval de Chefchaouen, para onde fui enviado com o prestigiado fotógrafo da National Geografic António Cunha, para me caber a realização de um pequeno documentário "As Duas Medinas" e ao António Cunha captar as imagens para formar o livro "Branca e Azul, A Pele da Taipa" e a correspondente exposição de fotografia. Materiais que viriam a constituir peças importantes do 1º Festival Islâmico de Mértola e depois transferidas para Marrocos num processo de geminação cultural entre Mértola e Chefchaouen, entretanto abrupta e incompreensivelmente amputado.
Para lá daquelas colinas do Estreito que funde o Atlântico e o Mediterrâneo, jorrava uma luz rara, contagiante, no mais profundo de quem faz dela a sua forma de escrita e criação. Inédita, num mistério secreto, inaudito, que só 8 anos depois tive o raro privilégio de transpor, diante das visões amplas de uma liberdade sem limites, que nunca experimentei antes do alcance do Deserto.
Só assim se sente uma tão desconhecida e inovadora proposta de Humanidades, inscrita e exercida pelo coração dos Berberes, que nos arrebata de grandiosa e nos torna ao mesmo tempo pequenos, por termos já no chamado Ocidente, danificado e corrompido terrivelmente o mais puro e genuíno do Ser.
Temos de voltar a aprender, se quizermos ter futuro. Ditam as tábuas do Criador, descontente com o aviltar da espécie contra si mesma.
Desde então já recebi correio e afectos do Deserto. Dizendo num esforço tenaz e dócil no uso do português, que agora é o momento exacto de cortar o trigo e que apesar de difícil, a tarefa é vivida com imenso amor no seio da Natureza e da família.
Retratos verbais que me chegam do outro mundo, mas nem por isso assim de tão longe. Num idioma que não existe. Mas onde redescubro com toda a transparência, imagens por mim arquivadas e se tornam o mais visual da memória, em redor das searas e dos sonhos ao tempo de toda a minha infância, breve, e ao que parece, estranhamente interminável.
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Para o Hammed, um encontro de minutos, na imagem.
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Copyright: Germano Vaz - World Arts Gallery - Sociedade Portuguesa de Autores - 4/2009