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Sem Pressas

Entra em todas as portas! Se não tiveres tempo hoje, regressa quando te apetecer ou precisares. Cada texto é uma audição, uma sala em que te encontras só em meditação, e cujas paredes vão progressivamente mudando de cor para auscultares o centro do teu Ser. A Beleza transcendente de um encontro com a tua própria consciência. Abraços. Germano Vaz.

domingo, 10 de maio de 2009

Jurassique Hotel





Amzouj

O Primeiro grande impacto com estes espaços gigantescos e esta Natureza, só aparentemente precária e débil, foi no cimo das montanhas de Amzouj, que deixam observar o enunciado das Gargantas do Ziz, num esplendor de luz e geologia, que me indicaram o mais certeiro dos destinos.
Lá em baixo, as tonalidades do rio, prosseguem como uma lava de prata já purificada, dirigida aos olhos e ao virtuosismo dos artesãos de joalharia. Fugaz e breve, este instante que nos ofereceu tão memorável riqueza, anunciava-nos uma sequência de constantes surpresas que nos preenchem e removem por dentro, buscando em nós a descoberta para outra dimensão do apreço pela Terra e pelos Seres que a habitam, que talvez já supuséssemos erradicado da nossa sensibilidade.
Na noite anterior decorria a encenação bem divertida de um casamento berbere, entre o primeiro herdeiro do trono Jurassique, e a Zeza, que em Mértola lida diariamente com euros para sugestões agrícolas.
Zeza e Gui, partilhavam o banco traseiro da Strakar do amigo Malagueta. Como a esta viatura foram atribuídas suspensões traseiras uniformes, sustentadas por molas de lâminas como as das antigas charretes, de cada vez que as duas musas saiam numa pausa, quase precisavam de uma bengala adequada à terceira idade. Mas as queixas nos quadris eram passageiras. Tanto mais que Zeza, ensaia dança oriental em Mértola e depois do Jantar no Jurassique, Gui não lhe deu descanso enquanto não a fez decidir-se a dar-nos uma exuberante exibição.
Aqui é normal os bailes ocorrerem na base de performances masculinas, tal como já se haviam pronunciado. Mas uma vez vestida a rigor, Zeza entrou na dança e de imediato partiu o coração aos nativos. Que até ali dançavam com o estímulo apenas pela metade.
A seguir, a cerimónia matrimonial entre Salam e Zeza assente nas regras berberes, quase se assumiu como real. Entre promessas de transmissão da herança do palácio para a posse da noiva, e a nostalgia de um noivo crente e convicto, quase não foi possível desmontar o que à partida se tomou como uma cena de teatro.
Apesar de divertida, a noite, no salão principal do hotel, saí até ao exterior para apanhar ar e de imediato me surpreender com uma atmosfera calma e sereníssima, purificadora. A Terra aqui, a Lua além, entre estrelas agitadas e luminosas, chamaram-me à memória José Afonso e a sua extraordinária canção "Eu Dizia", que introduzi no pequeno filme "Entre as Estrelas e o Chão", para o Centro de Interpretação da Paisagem da Amendoeira da Serra.
Alessandro, um jovem luso-italiano vindo do Algarve, interceptou-me no isolamento da contemplação e afirmou com a voz de um monge que busca a perfeição: - Como está espiritual este céu, esta noite... Aqui, as estrelas brilham mais. Dão-nos energia e força. - Sobre tudo força espiritual! Disse-lhe. Que é a mais benévola e essencial. E já nos parece tão rara, suspensa, até interdita, naqueles lugares de onde viemos...
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Para o Salam e para a Zeza, pela noite espectacular que nos proporcionaram.
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Copyright: Germano Vaz - Worlds Arts Gallery - Sociedade Portuguesa de Autores - 5/2009

2 comentários:

  1. VOLTAR A ÁFRICA É SEMPRE UMA REDESCUBERTA E UMA AVENTURA QUE SÓ SE PODE MESMO DESCREVER NA PRIMEIRA PESSOA. POVO HUMILDE E GRANDIOSO.AQUELA NOITE FOI MÍTICA...
    OBRIGADO POR NOS FAZERES REVIVER MOMENTOS E TERRA DE GENTE BOA.

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  2. obrigado pelo prazer de me teres feito sentir por uns maravilhosos momentos entre Mértola e marakeche.
    fotografias acompanhadas de uma escrita como a tua, são pura arte.
    até breve voltarei á procura de mais.

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