De Inglaterra
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Londres, era para mim uma espécie de mito. Um universo distante e inacessível, desde que dei por mim ao cimo da Terra. Venho de uma micro-colónia industrial inglesa, instalada no Concelho de Mértola no alvor do Século XIX, para dar lugar à exploração dos metais e outros elementos nos subterrâneos da Mina de S. Domingos.
Os mandatários da antiga Roma, enviados para o controlo do Ocidente da Ibéria, depressa se aperceberam que o Morro de S. Domingos escondia enorme potencial de riquezas. Escavaram galerias que ainda hoje são visíveis a partir dos observatórios turísticos instalados recentemente no sítio pela Câmara Municipal de Mértola, sobre o gigantesco patamar de escória e resíduos, deixados ao deus-dará pela magnânima administração inglesa.
Eu vi como tudo aquilo funcionava. Por algumas vezes vim de casa, situada a seis quilómetros da mina, de cesto na mão com a refeição de almoço, para entregar ao meu pai. Que por último trabalhava à boca do túnel no controlo da corda-sem-fim. Um espesso cabo de aço multi-filar onde eram enganchadas as zorras, pequenos vagões que circulavam sem parar, entre as profundezas negras da Terra e o Cais de transfega. Primeiro dos pontos para o acesso das substâncias minerais aos pólos siderúrgicos da Grã-bretanha.
Por tanto… Almocei por algumas vezes no ambiente de trabalho dos mineiros. Gravando na memória dos meus sete e oito anos, os sons e as imagens que ainda não vi reproduzidos em qualquer minuto de todo o volume de filmes e documentários até hoje realizados sobre o enorme complexo.
Inglaterra era pois um mundo distante e inacessível, desde então e até há pouco tempo. Até que um dia, um conjunto de ex-alunos meus se foram fixando um a um, no Canal de Música para jovens, MTV, situado em Camden Town , na ala norte de Londres. Comecei então o meu per-curso regular desde 2005 entre Lisboa e Londres e deste modo, os meus alunos me têm retribuído a dádiva da experiência transmitida, em alojamento, refeições e aprendizagem da geografia de Londres, e já também, de muitos outros pontos do país, nesta minha espécie de tirocínio sobre a Real Sociedade Inglesa.
Embora, tenha vindo ao mundo enquadrado numa figura de Estado regulada por um doentio e sarcástico sistema republicano, não sinto qualquer adversidade de simpatia, pelas monarquias, sempre que estas saibam interpretar a lição das formigas e das abelhas. E mais do que fazer ressurgir ou crescer qualquer império, conduzir as suas populações rumando ao grande destino das humanidades, em que todos participem com o seu melhor, ninguém se torne abastado em desmedida proporção, e todos tenham direito à oportunidade e ao suficiente. Pois que, dado o tempo médio de vida na espécie humana, mais não será necessário, para que todos possamos sair um dia deste mundo, livres de qualquer revolta, porque um outro nos devorou ou absorveu indevidamente parte ou a totalidade do nosso quinhão.
Precisava de ver. De observar em pormenor os materiais e contornos dos portões de Sua Majestade Rainha Isabel II. O Palácio de Buckingham, inicia os seus domínios geográficos logo a partir dos enormes arcos em Trafalgar Square. Passados estes dois imponentes arcos, temos quarenta minutos a pé, em linha recta até ao Palácio. O que fica desta enorme alameda sempre ladeada por frondosos jardins, é de que é o local ideal para as paradas e cerimónias militares. De facto, todo o perímetro de jardins do Palácio está disponível e aberto ao público permanentemente. A ala mais exuberante é a dedicada à província do Canadá. Aos portões que me levaram ali, já os de acesso às zonas de actividades oficiais e residências, transportei através da observação e do tactear o aço, o cobre e o bronze poderosos e espessos, uma espécie de memória, em devoção e apreço aos que recolheram estes metais das profundezas de S. Domingos. Dois soldados guardiões, imóveis como estátuas, só interrompem aquela ausência de movimento, quando substituídos por outros, ao fim de duas horas. Não desisto deste filme e quiçá até, se um dia consigo entrar ali dentro… Enquanto em Mértola se observam os restos da velha mina inglesa a partir dos miradouros assentes nas escórias, e diante de águas ácidas por deter e controlar, eu procuro uma oportunidade para dialogar com a Primeira Soberana do Palácio de Buckingham.
Os mandatários da antiga Roma, enviados para o controlo do Ocidente da Ibéria, depressa se aperceberam que o Morro de S. Domingos escondia enorme potencial de riquezas. Escavaram galerias que ainda hoje são visíveis a partir dos observatórios turísticos instalados recentemente no sítio pela Câmara Municipal de Mértola, sobre o gigantesco patamar de escória e resíduos, deixados ao deus-dará pela magnânima administração inglesa.
Eu vi como tudo aquilo funcionava. Por algumas vezes vim de casa, situada a seis quilómetros da mina, de cesto na mão com a refeição de almoço, para entregar ao meu pai. Que por último trabalhava à boca do túnel no controlo da corda-sem-fim. Um espesso cabo de aço multi-filar onde eram enganchadas as zorras, pequenos vagões que circulavam sem parar, entre as profundezas negras da Terra e o Cais de transfega. Primeiro dos pontos para o acesso das substâncias minerais aos pólos siderúrgicos da Grã-bretanha.
Por tanto… Almocei por algumas vezes no ambiente de trabalho dos mineiros. Gravando na memória dos meus sete e oito anos, os sons e as imagens que ainda não vi reproduzidos em qualquer minuto de todo o volume de filmes e documentários até hoje realizados sobre o enorme complexo.
Inglaterra era pois um mundo distante e inacessível, desde então e até há pouco tempo. Até que um dia, um conjunto de ex-alunos meus se foram fixando um a um, no Canal de Música para jovens, MTV, situado em Camden Town , na ala norte de Londres. Comecei então o meu per-curso regular desde 2005 entre Lisboa e Londres e deste modo, os meus alunos me têm retribuído a dádiva da experiência transmitida, em alojamento, refeições e aprendizagem da geografia de Londres, e já também, de muitos outros pontos do país, nesta minha espécie de tirocínio sobre a Real Sociedade Inglesa.
Embora, tenha vindo ao mundo enquadrado numa figura de Estado regulada por um doentio e sarcástico sistema republicano, não sinto qualquer adversidade de simpatia, pelas monarquias, sempre que estas saibam interpretar a lição das formigas e das abelhas. E mais do que fazer ressurgir ou crescer qualquer império, conduzir as suas populações rumando ao grande destino das humanidades, em que todos participem com o seu melhor, ninguém se torne abastado em desmedida proporção, e todos tenham direito à oportunidade e ao suficiente. Pois que, dado o tempo médio de vida na espécie humana, mais não será necessário, para que todos possamos sair um dia deste mundo, livres de qualquer revolta, porque um outro nos devorou ou absorveu indevidamente parte ou a totalidade do nosso quinhão.
Precisava de ver. De observar em pormenor os materiais e contornos dos portões de Sua Majestade Rainha Isabel II. O Palácio de Buckingham, inicia os seus domínios geográficos logo a partir dos enormes arcos em Trafalgar Square. Passados estes dois imponentes arcos, temos quarenta minutos a pé, em linha recta até ao Palácio. O que fica desta enorme alameda sempre ladeada por frondosos jardins, é de que é o local ideal para as paradas e cerimónias militares. De facto, todo o perímetro de jardins do Palácio está disponível e aberto ao público permanentemente. A ala mais exuberante é a dedicada à província do Canadá. Aos portões que me levaram ali, já os de acesso às zonas de actividades oficiais e residências, transportei através da observação e do tactear o aço, o cobre e o bronze poderosos e espessos, uma espécie de memória, em devoção e apreço aos que recolheram estes metais das profundezas de S. Domingos. Dois soldados guardiões, imóveis como estátuas, só interrompem aquela ausência de movimento, quando substituídos por outros, ao fim de duas horas. Não desisto deste filme e quiçá até, se um dia consigo entrar ali dentro… Enquanto em Mértola se observam os restos da velha mina inglesa a partir dos miradouros assentes nas escórias, e diante de águas ácidas por deter e controlar, eu procuro uma oportunidade para dialogar com a Primeira Soberana do Palácio de Buckingham.
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Copyright: Germano Vaz - World Arts Gallery - Sociedade Portuguesa de Autores - 11/2009.
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